Com estreia prevista para breve, o filme, baseado no extenso artigo "Os Últimos Dias de John Allen Chau", de Alex Perry, para a Outside Magazine, oferece uma visão multifacetada e humana da jornada de Chau. A narrativa acompanha o missionário desde seus tempos na Universidade Oral Roberts até sua preparação com o grupo All Nations para levar o Evangelho aos sentineleses, a quem ele, em seus diários, referiu-se como "a última fortaleza de Satanás".
A Busca por Humanidade em uma Figura Controversa
O ponto de partida para Lin foi um impacto pessoal. Ao ver a notícia da morte de Chau no saguão de um aeroporto, o diretor inicialmente o descartou, mas foi surpreendido ao ver o rosto de um jovem sino-americano. Essa imagem desencadeou uma reação profunda: "Aquele é o filho de alguém... Quem sou eu para julgá-lo ou descartá-lo em 20 segundos?". Esse sentimento de empatia motivou um desenvolvimento criativo de três anos, com o objetivo de buscar um "retrato humano" de John Allen Chau (interpretado por Sky Yang).
A obra explora as complexas camadas do protagonista: um jovem formado, aventureiro, criado em um lar cristão afetuoso (seus pais são interpretados por Ken Leung e Claire Price) e, ao mesmo tempo, impulsionado por uma convicção missionária inabalável que o levou a ignorar as leis indianas e os riscos éticos e sanitários de contatar um povo isolado.
Múltiplas Visões e o Debate Ético
O roteiro, assinado por Ben Ripley, se estrutura para ir além do julgamento, apresentando "múltiplas visões", incluindo a da oficial indiana Meera (Radhika Apte), que tenta elucidar as últimas horas de Chau. Lin descreve o filme como algo que "começa quase como um procedimento, mas depois se abre para algo maior... não para julgar, mas para conectar."
Um dos focos sensíveis do filme é a dor e culpa do pai de John, um psiquiatra cristão que, como revelado no artigo de Perry, chegou a culpar o "cristianismo extremo" pela morte do filho.
O filme também resgata o debate público que se seguiu à tragédia:
Riscos do Evangelismo Moderno: A produção dialoga com a crítica levantada por outros trabalhos, como o documentário The Mission da National Geographic, sobre os riscos do evangelismo descontrolado a povos isolados, cujo sistema imunológico é vulnerável a doenças do mundo exterior.
A Centralidade da Missão: Em contraponto, a obra reflete a perspectiva de figuras como Jaime Saint, neto do missionário Nate Saint, que defende a primazia da Grande Comissão, afirmando que a medida do sucesso cristão é a "obediência".
Lin, embora não seja cristão, abordou a fé com reverência, influenciado por sua vivência: "O que aprendi... foi decência, respeito, gentileza." Para ele, o propósito do filme não é responder se Chau estava certo ou errado, mas sim questionar: "Eu queria perguntar por quê."
Linguagem Cinematográfica: Aventura e Tragédia
Ao examinar os diários de John Chau, o diretor identificou as marcas de aventura na autoimagem do missionário, que era influenciado por figuras literárias e histórias como as de Robinson Crusoé e O Fim da Lança. Lin optou por usar "a mesma linguagem cinematográfica que o inspirou," combinando aventura e odisseia espiritual. O resultado é um drama que se apropria de recursos narrativos familiares para tentar aproximar o público da complexa humanidade do protagonista.
Com Last Days, Justin Lin espera estimular um diálogo construtivo. Conforme declarado em entrevista ao The Christian Post, o diretor busca "conectar pessoas de origens muito diferentes", construindo pontes onde antes existia apenas julgamento sobre um evento que abalou as noções de missão, fronteira e respeito a culturas isoladas no século XXI.
Fonte: The Christian Post
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