Marcada pela Tragédia, Salva por um Milagre: A História de "Baby Ruth", a Órfã do Massacre que se Tornou Símbolo de Esperança na Nigéria


Aos cinco anos, a única sobrevivente de um ataque que dizimou sua família reflete a resiliência da fé em meio a uma das perseguições mais brutais do mundo. Sua história é um testemunho de que a vida pode florescer sobre as cinzas do ódio.

O sorriso que ilumina o rosto da pequena Ruth hoje, aos cinco anos, desmente a brutalidade de seu nascimento. Para quem a vê cantar na escola dominical ou aprender a escrever com um zelo infantil, é quase impossível imaginar que sua vida começou em uma poça de lama, ao lado do corpo de sua mãe assassinada. Conhecida como "Baby Ruth", ela é um milagre vivo, um símbolo de esperança para a Igreja Perseguida na Nigéria, um país onde o simples ato de seguir a Cristo pode ser uma sentença de morte.

Sua história começa na madrugada de 2 de agosto de 2021, quando o som do inferno irrompeu pelas colinas da aldeia de Maiyanga, no estado de Plateau. Milicianos islâmicos Fulani, fortemente armados, invadiram a comunidade em um ataque coordenado, atirando para matar. No meio do caos, Hannatu, uma jovem mãe, agarrou sua filha de apenas dois meses e correu desesperadamente para a escuridão.

Encurralada às margens de um rio, com os agressores se aproximando, Hannatu fez o último apelo de uma mãe: implorou pela vida de sua filha. Em um ato de crueldade indescritível, os terroristas arrancaram a pequena Ruth de seus braços, assassinaram Hannatu a sangue frio e deixaram o bebê de dois meses para morrer, chorando sobre a lama ensanguentada. Naquela noite terrível, o pai de Ruth e outros cinco membros de sua família também foram chacinados. Da família nuclear, apenas Ruth sobreviveu.

O Resgate e um Novo Começo

"Das cinzas daquele momento de terror, a graça de Deus resplandeceu", relata a International Christian Concern (ICC). Ao amanhecer, outros sobreviventes encontraram a bebê, fria e coberta de lama, mas milagrosamente viva.

A criança foi acolhida por seu tio, Danjuma John, e sua esposa, Talatu, irmã de Hannatu. Mesmo lidando com a própria dor e criando seus filhos, o casal não hesitou. "Sabemos da importância das crianças. Agradecemos a Deus por nos dar condições de cuidar bem dela. Não tem sido fácil, mas acreditamos que Ele continuará nos guiando", afirma Talatu, cuja família também foi dizimada pela violência.

Para eles, a fé não é uma teoria, mas a força que os sustenta em meio a uma dor inimaginável. Danjuma conta como a perseguição, paradoxalmente, fortaleceu sua fé. "Isso nos tornou mais fortes e nos aproximou de Deus", diz ele. "Não oramos por vingança, mas por perdão – para que os agressores encontrem Cristo. Só Deus pode transformar o coração de um homem."

Uma Realidade Sistemática

Hoje, Ruth estuda na Escola Primária ECWA, em Jos. Sua professora a descreve como "calma e gentil", uma menina com um "futuro brilhante", embora ainda lute com as sequelas do trauma. A história dela, no entanto, está longe de ser um caso isolado.

Gata Moses, um defensor comunitário que trabalha na região, pinta um quadro desolador. "Essa é a realidade de muitas crianças cristãs na Nigéria. Elas viram seus pais serem assassinados. A violência é sistemática – é uma forma de genocídio. Ainda assim, o governo permanece em silêncio. Estamos clamando para que o mundo veja nossa dor."

A região do Cinturão Médio da Nigéria tornou-se um campo de extermínio para cristãos, com centenas de aldeias atacadas e dezenas de milhares de desabrigados. A família de Ruth vive sob essa ameaça constante. "Às vezes ouvimos tiros de vilarejos próximos. Isso nos lembra daqueles dias sombrios. Mas confiamos na proteção de Deus", diz Talatu.

A maior oração da família é pela paz e pela educação de Ruth. "Queremos que ela aprenda e se torne alguém que possa ajudar os outros um dia", diz Talatu. "Acreditamos que Ruth pode ir mais longe se tiver oportunidade."

Enquanto o mundo debate questões distantes, a história de "Baby Ruth" serve como um lembrete pungente de que, em lugares como a Nigéria, a fé é vivida diariamente sob a mira de uma arma. E em cada sorriso dessa pequena órfã, há uma declaração desafiadora: o ódio pode matar, mas não pode extinguir a esperança.


Fonte: guiame

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