Nordeste se Mantém como a Região Menos Evangélica do Brasil


A Região Nordeste, composta por nove estados, continua a ser o principal reduto do catolicismo no Brasil, com 63,9% de sua população se declarando católica, segundo dados do Censo 2022. Em contrapartida, a região apresenta a menor proporção de evangélicos do país: 22,5%, abaixo da média nacional de 26,8%.

Embora o número de evangélicos na região tenha crescido 37% entre 2010 e 2022, o avanço encontra um ritmo próprio e desafios específicos. Estados como Piauí (15,6%), Sergipe (18,3%), Ceará (20,8%) e Rio Grande do Norte (21,4%) registram os menores percentuais de evangélicos do Brasil, indicando uma paisagem religiosa distinta do restante do país.

Para especialistas, a chave para entender esse cenário não está nos números, mas na cultura.

O Desafio da Adaptação Cultural

Segundo Luciano Gomes dos Santos, especialista em Ciências da Religião, a expansão evangélica no Nordeste esbarra em barreiras de adaptação. "Quando não há tradução das mensagens em formas ritualizadas locais, nem valorização de expressões musicais regionais, a eficácia missionária diminui", explica. Ele ressalta que a forte presença do catolicismo popular e das tradições de matriz africana e indígena cria laços sociais e identitários robustos.

Essa visão é compartilhada pelo pastor Celso Godoy, da Igreja Batista Monte Castelo, na Bahia. Ele afirma que as estratégias missionárias bem-sucedidas no Sul e Sudeste, baseadas em grandes estruturas e forte presença na mídia, não se mostram eficazes no contexto nordestino.

Uma Missão "Relacional" e Menos Política

Para Godoy, a missão na região é, acima de tudo, relacional. "Igrejas que chegam apenas com modelos importados enfrentam resistência. A barreira não é contra o Evangelho, mas contra propostas que soam distantes da cultura local", comenta.

Ele observa que as vertentes pentecostais e neopentecostais têm alcançado maior aceitação, justamente por adotarem um estilo de culto que dialoga com a religiosidade popular nordestina, marcada pela emotividade e por uma fé intensa.

Outro ponto destacado pelo pastor é a menor associação pública entre líderes evangélicos e figuras políticas na região. Em sua visão, essa distância ajuda a "preservar a credibilidade institucional das igrejas", um fator crucial para a construção de confiança.

Conforme informado pelo portal Comunhão, ambos os analistas concordam que a consolidação da presença evangélica no Nordeste depende de uma abordagem autêntica, que valorize a cultura local, invista na formação de lideranças regionais e promova ações sociais contínuas, em vez de focar apenas em crescimento numérico ou em modelos organizacionais externos.

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