A região de fronteira entre Afeganistão e Paquistão foi palco, no último fim de semana, de confrontos que resultaram em centenas de mortes. Esta escalada representa o confronto mais sério entre os dois países desde que o Talibã assumiu o poder em Cabul, em 2021, e atraiu a atenção do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O nível de hostilidade ficou evidente na divergência dos números de baixas. O Paquistão alegou ter matado mais de 200 combatentes do Talibã e militantes, enquanto o Talibã reconheceu apenas nove. Por sua vez, o Talibã afirmou ter matado 58 soldados paquistaneses, número que o Paquistão limitou a 23, conforme o principal porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid.
O Estopim dos Confrontos
A última rodada de violência começou na noite de sábado (11), quando forças do Talibã afegão atacaram postos militares paquistaneses ao longo da extensa fronteira de 2.600 km. As forças paquistanesas retaliaram com o uso de armas de fogo, artilharia e drones, com trocas de tiros que se estenderam até a madrugada de domingo (12).
O Talibã afegão alegou que o ataque de sábado foi uma resposta a uma violação do seu espaço aéreo cometida na semana anterior. O Paquistão havia realizado um ataque aéreo contra Cabul, capital do Afeganistão, visando o líder do grupo Talibã Paquistanês, segundo autoridades de segurança paquistanesas (o resultado da ofensiva não foi confirmado).
A Origem do Conflito: O Talibã Paquistanês (TTP)
A principal fonte de atrito é o Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), conhecido como Talibã Paquistanês. Formado em 2007 por grupos jihadistas da etnia pashtun no Paquistão, o TTP foi inspirado no Talibã afegão, mas adotou uma ideologia mais radical, alinhada à Al-Qaeda.
O TTP conduziu inúmeros ataques terroristas no Paquistão, incluindo o trágico massacre em uma escola em Peshawar em 2014, que matou mais de 130 crianças. A ofensiva militar paquistanesa que se seguiu empurrou a liderança e combatentes do TTP para o Afeganistão.
O Vínculo Rompido Pelo Poder
O Paquistão inicialmente celebrou a volta do Talibã ao poder em Cabul em 2021, mas logo percebeu que sua influência sobre o grupo havia se esvaído. Desde então, o Paquistão registrou um aumento acentuado nos ataques do TTP, e Islamabad acusa o governo Talibã de dar abrigo à liderança e aos combatentes do grupo em solo afegão.
Cabul, no entanto, nega a presença organizada do TTP no país. O Paquistão, que no passado foi acusado de apoiar a insurgência de duas décadas do Talibã contra o governo afegão apoiado pelos EUA, agora afirma que sua paciência para conter o TTP se esgotou.
Situação Atual e Repercussões Internacionais
Apesar da escalada, Paquistão e Afeganistão concordaram mutuamente na sexta-feira (17) em estender um cessar-fogo de 48 horas até a conclusão de negociações planejadas em Doha, no Catar. Delegações de ambos os lados são esperadas na capital catari para buscar uma solução diplomática.
O Paquistão também levantou preocupações geopolíticas, acusando sua adversária de longa data, a Índia, de trabalhar com o Afeganistão para apoiar o TTP. Nova Déli nega a alegação. A visita do ministro das Relações Exteriores afegão, Amir Khan Muttaqi, à Índia gerou preocupações adicionais em Islamabad.
A violência não passou despercebida por Washington. O presidente dos EUA, Donald Trump, comentou a situação enquanto viajava para o Oriente Médio, dizendo: "Ouvi dizer que há uma guerra em andamento entre o Paquistão e o Afeganistão. Vou ter que esperar até voltar. Sabe, vou fazer outro, porque sou bom em resolver guerras."
Fonte: cnnbrasil
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